Suicídio, estigmas e orientação familiar
CRP 11 - 07100
“Preocupamo-nos com a destruição provocada pelos outros, mas evitamos falar sobre a autodestruição” – Edwin Shneidman
Setembro amarelo, o que é?
O setembro amarelo é uma campanha de prevenção ao suicídio. O objetivo dessa campanha é falar ativamente sobre o assunto, combatendo preconceitos e mitos sobre o suicídio, conscientizando, desenvolvendo e divulgando formas de prevenção.
O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a campanha acontece durante todo o ano.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), na década de 1960, definiu comportamento suicida como todo ato pelo qual o indivíduo causa lesão a si mesmo, independente do grau de intenção e do verdadeiro motivo deste ato.
Os fatores de risco são inúmeros e entre eles é possível citar: intenso sofrimento psíquico, comorbidades psiquiátricas, falta de tratamento ativo ou continuado em saúde mental, uso problemático de substâncias psicoativas, dinâmica familiar instável, violência física e/ou sexual, isolamento social, vínculos sociais enfraquecidos, perda afetiva recente ou outro acontecimento estressante/aversivos, automutilação, desesperança, desamparo, humilhação, preconceito de várias categorias, sentimentos invalidados, pouco repertório para resolução de problemas.
Em torno desse tema ainda enfrentamos muitos mitos e um deles diz que “falar sobre suicídio incentiva a pessoa a se matar”, porém, essa premissa é equivocada, pois é preciso falar para prevenir.
Frases como:
“Porque essa pessoa está assim, ele teve tudo…”
“Se eu tivesse a metade do que ela tem, eu estaria muito feliz…”
“Isso é falta de fé…CABEÇA FRACA…”
Essas colocações nos impedem de desenvolver a empatia necessária diante da subjetividade do outro que sofre de forma singular.
Nesse sentido, a intenção ou o ato do suicídio por se tratar de um fenômeno complexo e multideterminado, assim deve ser avaliada cada situação considerando a história de vida de cada ser humano.
“O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: do nosso próprio corpo, do mundo externo e de nossos relacionamentos com os outros homens”. (Freud em mal-estar na civilização, 1976).
Combate ao estigma
Equívocos e preconceitos historicamente recorrentes vêm contribuindo para formação de um estigma em torno dos agravos mentais/comportamentais e do comportamento suicida.
O estigma incide progressivamente e às vezes de maneira sutil, em pessoas que estão vivenciando crises ou ideação suicida, invalidando seus sentimentos e potencialidades, gerando vergonha, exclusão e discriminação.
Nesse sentido, o desconforto e o tabu relacionados ao assunto são aspectos que condicionam barreiras para a prevenção e podem inviabilizar a identificação precoce e uma intervenção bem-sucedida.
Há tempos de nossa história, por razões religiosas, morais e culturais o suicídio foi considerado um grande “pecado”, talvez o pior deles.
Por esta razão, ainda temos medo e vergonha de falar abertamente sobre esse importante problema.
E os familiares e amigos?
O acompanhamento do indivíduo que está sofrendo uma condição de possível suicídio, tem responsabilidade compartilhada entre a pessoa que sofre, familiares, amigos e equipe de saúde.
A família geralmente é um fator de proteção e tem um importante papel no cuidado e assistência à pessoa que tentou suicídio e que ainda se encontra em crise.
Orientação:
A sensibilização sobre o acontecimento, buscando construir uma rede de cuidado, no qual a família entenda a importância de sua presença e participação;
Acolher ao invés de invalidar os sentimentos de angústia, insegurança, medo, frustração, etc;
Buscar informação e trazer conhecimento sobre a situação;
Desconstruir preconceitos e mito por meio da informação;
Adquirir Informação sobre medidas protetivas para a segurança do familiar;
Buscar conhecer a rede de apoio psicossocial da sua cidade e;
Ter acesso aos profissionais e especialistas que entendam do assunto e possam ajudar com a assistência necessária.
Questões éticas da psicologia na atuação clínica
O Código de Ética Profissional do Psicólogo determina no artigo 9, que “é dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional”.
No artigo 10º diz que “o psicólogo poderá decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo”.
Divulgue a campanha para os seus amigos e familiares. Participe da campanha durante todo o ano.
O suicídio é um comportamento que envolve o gerenciamento de vários riscos tendo a participação da família, amigos, da pessoa em sofrimento e nós da equipe de saúde.
“Quando não houver saída. Quando não houver mais solução, ainda há de haver saída. Nenhuma ideia vale uma vida”
Conheça mais sobre a campanha de prevenção ao suicídio:
Centro de Valorização da Vida – CVV (1962) https://www.cvv.org.br/
Vidas Preservadas (2018) http://www.mpce.mp.br/caopij/projetos/vidas-preservadas/
PRAVIDA (2004) https://www.pravida.com.br/
Instituto Bia Dote (2017) http://institutobiadote.org.br/
Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) – como é no meu bairro/ cidade?
Quer saber mais sobre orientação familiar e psicoeducação? Fale conosco.
Autora:
Ângela F. Segundo Farias – Psicóloga CRP11/13560
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